sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Alcatifada de Flores

E as sibipirunas derramaram suas flores, alcatifando ruas, formando enxurradas junto às guias, alegrando os olhos, colorindo o asfalto em dias ainda primaveris. Não é abril, mas esse pedaço da Terra ficou lindo. Elas remetem ao poema Minha Terra, de Casimiro de Abreu, poeta do movimento romântico do século XIX:
Correi pr'as bandas do sul:
Debaixo dum céu de anil
Encontrareis o gigante
Santa Cruz, hoje Brasil;
— É uma terra de amores
Alcatifada de flores
Onde a brisa fala amores
Nas belas tardes de Abril.


Flores da Sibipiruna



terça-feira, 28 de outubro de 2014

O Guapuruvu

Você conhece essa árvore? Provavelmente foi a seca brava deste ano de 2014 que fez com que ela se engraçasse e mostrasse as flores, ou, quem sabe, cresceram as pequenas mudas plantadas nos rebuliços paisagísticos da cidade de São Paulo.  Com 20 a 30 metros de altura e folhas com até 1 metro, essa árvore nativa tem se mostrado na paisagem da metrópole. Imagino vantagens: ela é tão alta que sua copa pode ficar acima dos postes de iluminação, não escurecendo as ruas; seu tronco liso e reto não confunde composições nos jardins, ou, quem sabe, foi escolhida porque carrega em sua cabeça um grande buquê de flores amarelas. Uma curiosidade sobre essa árvore é terem os índios o costume de usar seu tronco para fazer canoas. Essa é a provável origem de um dos nomes dessa árvore majestosa: pau-de-canoa. Faveira, Birosca, Bacuruva são alguns de seus outros nomes. Na primavera paulistana, ao lado dos ipês e sibipirunas, ela se exibiu.

Schizolobium parahyba




segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Outono violeta

Esse ano o trópico de capricórnio ficou violeta. A seca deve ter feito a natureza se superar e como ela se superou! No início foram as paineiras da cidade de São Paulo e seu entorno, depois se assanharam os ipês roxos e em julho apareceram e se recolheram as patas-de-vaca. Bom, entre essas, as brancas são as genuínas da mata atlântica e brilharam tanto no frio que parecia terem confundido a estação.  Aí estão as variegatas, espécies que dão o tom violáceo ao gênero bauhinia.
 

Bauhinia variegata
                                                    
                                                               

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Atenção, felino no trabalho!

As fêmeas de felinos são hábeis caçadoras. Assim é a gatinha Mimi da família Nestlehner. Senhor Claudio, cansado de todas as manhãs ter que expulsar ratos intrusos do motor de seu carro, apostou no talento de Mimi para caçá-los. E apesar de seu jeito lânguido de gata de poltrona, provou ser astuta caçadora. Má sorte dos ratos os quais persegue sempre à noite. Durante o dia, seu período de descanso, adora dormir na estante da sala e para isso, sem cerimônia, desaloja o porta-retratos de seu espaço.
Muitos animais domesticados trabalham para os homens. Os cães, nos polos, movimentando trenós, cavalos e bois tracionando carroças, camelos em caravanas pelos desertos são exemplos. Talvez os gatos estejam mudando de papel e Mimi seja apenas uma trabalhadora arcaica.


Mimi descansa, porque ninguém é de ferro.

O Ipê roxo também é rosa

Ipê em tupi quer dizer árvore cascuda. De seu tronco lenhoso, rico em substâncias com alto valor terapêutico, sai muita cura. Diz-se que até cancer ele estanca. Não sei. Mas florido é lindo demais com seus globos róseos em galhos desnudos. É brasileiro: nasce no cerrado e na Mata Atlântica. Floresce em junho. Encontrei muitos exemplares em São Paulo, no bairro da Consolação, como o da foto.



                             Ah, sim! O nome científico do ipê é Tabebuia avellanedae.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Poetisa de Bela Alma

Flor Bela de Alma da Conceição Espanca. poetisa portuguesa que viveu no início do século passado, também foi tocada pelas árvores. No repertório do Banco de poesia da Casa Fernando Pessoa há dois poemas sobre elas: A voz da Tília e Árvores do Alentejo. Aqui uma estrofe desse último:

   Árvores! Corações, almas que choram,
   Almas iguais à minha, almas que imploram
   Em vão remédio para tanta mágoa!

Essa poetisa foi uma mulher de vanguarda. Uma das quatorze em sua turma na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e, antes, uma das poucas mulheres portuguesas a cursar o ensino médio. Foi colaboradora como jornalista em alguns jornais. Publicou Livro de Mágoas e Charneca em Flor, entre outros livros de poesia. Acertou seu pai na escolha do nome, Florbela Espanca, Bela de Alma.

Zuleica passeia

Pode parecer crise de identidade, mas Zuleica aparentemente preserva todos os traços de sua existência felina. O problema de Zuleica é a vontade de passear. Gatos que vivem em casa estão sempre em cima dos muros; gatos de apartamentos não têm essa liberdade. Mas Zuleica briga pela sua e cobra o passeio da noite, quando sua dona está em casa. Honras à Zuleica e a seu passeio.

Fotos; Mariana Pinto

quinta-feira, 27 de março de 2014

Romeu e Julieta - a história é outra

Para amor igual, Shakespeare mostrou outro final. O Romeu desta história não é um Montecchio, mas foi jurado de morte por uma pessoa da casa em que vivia. Por envenenamento se sabia. Julieta, vítima de maus tratos, foi encontrada perambulando no bairro. O Romeu da tragédia, julgando a amada morta, mata-se com o veneno que havia comprado e Julieta, ao despertar e ver o amado morto, tenta absorver o veneno de seus lábios. Não conseguindo, mata-se com uma adaga. O Romeu e a Julieta de agora se amam e estão juntos desde que chegaram à casa onde vivem. Julieta já beijou Romeu muitas vezes, mas afora algum desprezo, jamais foi envenenada.

Romeu e Julieta


 

Uma história de amor

Fotos de Camila Douteiro

Consagrando o instante - paineira

Octavio Paz, poeta e crítico mexicano cujo centenário se comemora este mês, no ensaio " A Consagração do Instante" atribui à poesia essa função de consagrar o instante, ao separá-lo da "corrente temporal" e torná-lo "para sempre presente". Assombrei-me com a paineira-rosa e, lembrando-me daquele título, capturei a imagem desse poema vivo para compartilhar o privilégio de sua visão e tentar mantê-la para depois. Esse instante ocorre no início do outono, quando ela quer. Perdoe-me o poeta a associação, talvez, imprópria.

quarta-feira, 19 de março de 2014

Poesia que fala mais alto

A Casa Fernando Pessoa, em Lisboa, apresenta-se como "um centro cultural que realiza exposições de artes plásticas, colóquios, workshops e espectáculos, dotado de uma biblioteca pública especializada em Poesia".
Seu site http://casafernandopessoa.cm-lisboa.pt disponibiliza dois patrimônios digitais fantásticos: a biblioteca particular de Fernando Pessoa com 1142 volumes e o Banco de Poesia com a obra de poetas portugueses conhecidos e desconhecidos, clássicos e modernos, de um Joam Aires de Santiago, trovador do século XIII, representado com dois poemas a José Saramago, morto em 2010 e mais conhecido por sua prosa, em romances como "O Ensaio sobre a Cegueira, de 1995 e "O Evangelho Segundo Jesus Cristo", de 1991. Claro, estão lá todos os "Pessoas" - "Pessoa-ele-mesmo", Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Alberto Caeiro e o meio-heterônimo Bernardo Soares.
Para esse primeiro post sobre poesia, recolhi desse banco fabuloso uma homenagem ao poeta e seu papel no mundo, por José Saramago em PROCESSO, na obra "Os Poemas Possíveis" de 1966.

        As palavras mais simples, mais comuns,
        As de trazer por casa e dar de troco,
        Em língua de mundo se convertem:
        Basta que, de sol, os olhos do poeta,
        Rasando, as iluminem.

terça-feira, 11 de março de 2014

Quaresmeira - tempo de penitência

Passado o carnaval, é tempo de penitência. A tibouchina granulosa exibe seus adereços roxos ou da cor violeta, fazendo sua liturgia da quaresma. Daí seu nome popular: quaresmeira. É bonito ver essa árvore florindo nas ruas da cidade de São Paulo, fazendo-se notar.  Como ela tem porte pequeno ou mediano, é difícil reconhecê-la despida de suas flores sombreando as calçadas da cidade. Para quem pode escolher, fica aí a ideia de plantar uma quaresmeira em seu jardim . Ela é coisa nossa, nascida na Mata Atlântica.
 
                                                                 Seu bairro tem uma?

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Eu seria um Baobá

No Clube da Árvore, do Gato e da Poesia, o Baobá provavelmente é o sócio mais antigo.
Se eu fosse uma árvore, com certeza seria um Baobá. Primeiro, porque ele mora na África, continente pelo qual nutro um amor platônico; segundo, porque ele é um pouco torto e solitário, como acredito que seja minha alma, terceiro, porque ele é grande, exatamente como o meu bobo coração. Por último, eu seria um Baobá, porque, assim como ele, tento extrair o que há de melhor nas situações, mesmo que delas não consiga extrair muita coisa. Na secura da savana africana, com suas raízes gigantescas, o Baobá é capaz de capturar mais de 100 litros de água que são armazenados em seu tronco.
O que mais me atrai no Baobá, no entanto, são as lendas em torno dele. Na Costa do Marfim, por exemplo, uma história conta que o Baobá era uma árvore linda e exuberante, mas, por causa de sua beleza, tornou-se orgulhosa demais; então, como castigo, o criador do universo arrancou-a do solo e plantou-a de cabeça para baixo. No Senegal existe a crença de que se um morto for sepultado dentro de um Baobá, que chega a durar 6 mil anos, sua alma irá viver enquanto a planta existir.
Há inúmeras histórias em torno dessa árvore. Em O Pequeno Príncipe, livro de Antoine de Saint-Exupéry, ela foi motivo de preocupação, porque crescia demais e ocupava muito espaço no pequeno planeta do garoto sonhador: "E um baobá, se a gente custa a descobri-lo, nunca mais se livra dele. Atravanca o planeta." Procure lá no capítulo V.
Para encerrar, uma lenda da Zâmbia. Era uma vez um Baobá que serviu de sombra para quatro donzelas virgens e por elas se apaixonou. As moças cresceram e casaram-se. Enciumada, a árvore raptou-as e levou-as para dentro de seu tronco. Até hoje os nativos dizem que as águas das chuvas são lágrimas de donzelas raptadas.
E você? Se fosse uma árvore, qual seria?
Por Mariana Pinto

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

"Eu e Meu Gato"

O título desta postagem foi inspirado na composição homônima da genial Rita Lee no álbum Babilônia de 1978. "Eu e Meu Gato" brinca com situações em que os gatos se colocam ("eu no telhado" ) e com referência ao personagem de "O Gato de Botas" ( "ele sem botas..."). Não sei se a Rita tinha mesmo um bichano ou se "gato"  na letra estava em sentido figurado, mas o meu é real. E tem nome: Clinton.
Clinton veio da rua. Chegou "acabado": cabeça enorme e corpo quase pelado. Uma ferida na perna e muita fome. Faz três anos. Pena que não tenha tirado uma foto para fazer um "antes e depois", só para comparar com esse perfil bonito que ele tem hoje.
Falta explicar-lhe o nome. Quando ele chegou, além da magreza e da feiúra, notei-lhe quatro patas brancas e lembrei-me de que Bill, o ex-presidente americano, teve um gato chamado "Socks". Claro que não iria chamá-lo de "meias", mas o nome do dono pareceu servir bem ao meu gato.


E o seu gato, como ele é?

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

A História de Lola

Lola apareceu miando. Foi seu miado intermitente que fez com que procurássemos um gatinho em um terreno vizinho ao de nossa casa em uma noite ao final da primavera. Ali ele não estava. Os miados cessaram e, como era noite, entramos em casa sentindo-nos confusos. Havia mesmo um gato? No dia seguinte, ao sair para o trabalho, interrompi a entrada em meu carro ao ouvir os miados novamente. Dessa vez, no entanto, mais fortes, mais próximos, pareciam vir da garagem. Com tantas histórias de gatos atropelados por seus donos ou gatos descobertos aninhados em rodas, não poderia por o carro em movimento sem descobrir o gatinho, que naquele momento, já tinha presença indubitável. Não o encontrei e saí.

Quando voltei do trabalho naquela tarde mostraram-me o gatinho dentro de uma caixa de transporte. Pequeno e sujo, fora encontrado sobre o protetor de cárter do motor do carro que ficara na garagem. O que se seguiu: levei-o ao veterinário onde foi vermifugado e descobri que era uma gatinha. Voltamos para casa para breve estada. Como o gato de casa estava incomodado com a concorrência, encontramos uma dona maravilhosa para ela que a batizou.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Início

Uma noite eu sonhei com este blog. Não sei qual parte estava no sonho e qual parte despertou comigo, mas quando acordei tinha um nome, um objetivo e uma estrutura. Dava para começar. Ao final de 2013, compartilhei essa ideia com alguns possíveis colaboradores para testar sua receptividade. Não encontrei exatamente o meu entusiasmo e desanimei um pouco, até descobrir pelas redes sociais o interesse e a paixão de amigos e dos amigos deles por árvores, gato e poesia. Em diferentes graus, é verdade, mas paixão também se desperta. Aí encontrei a alavanca que faltava para lançar este espaço de entretenimento e informação.

O blog é um clube, porque é, acima de tudo, um espaço lúdico virtual, com objetivos de entretenimento, de compartilhamento de histórias, de informação sobre obras, espécies e lugares, na forma de textos, imagens e links.

Vamos começar com uma dica: você sabia que a Fundação Maria Luisa e Oscar Americano, localizada no bairro do Morumbi em São Paulo, tem um parque com árvores raras, como o pau-brasil, catalogadas?

Temos um time de colaboradores oficiais, mas esse é um espaço de convivência e de troca, aberto à colaboração de todos que nos visitam.